Monday, December 15th, 2025

Contrastes no Cinema: Da Melancolia Adolescente ao Horror Visceral

O universo cinematográfico é vasto o suficiente para explorar a condição humana de maneiras diametralmente opostas, seja através de um drama sensível sobre o amadurecimento ou por meio do terror cru que explora o medo da morte. Duas produções distintas chamam a atenção justamente por essa capacidade de imersão: o já clássico moderno “As Vantagens de Ser Invisível” e a promessa de horror independente “Mother of Flies”. Embora pertençam a gêneros diferentes, ambos lidam com protagonistas que buscam, desesperadamente, uma cura para suas aflições, seja na alma ou no corpo.

A profundidade inesperada de um drama escolar

À primeira vista, “As Vantagens de Ser Invisível” poderia ser facilmente confundido com mais um filme adolescente estadunidense genérico, repleto de clichês sobre o ensino médio e a necessidade de adaptação social. No entanto, a obra subverte essas expectativas ao apresentar uma narrativa que gira em torno dos excluídos, com foco total em Charlie. Interpretado por Logan Lerman, o personagem é um rapaz solitário que carrega consigo um quadro depressivo severo, fugindo completamente do estereótipo do protagonista heróico ou popular.

O filme ganha relevância cultural justamente por não maquiar a realidade. Charlie leva para os corredores da escola uma carga emocional pesada, oriunda de traumas passados. Sua sensação de invisibilidade decorre da dificuldade extrema em criar laços e da solidão que o cerca. A estrutura da obra, tanto no livro original quanto na adaptação fílmica, funciona quase como uma sessão de terapia: o espectador se torna o confidente para quem Charlie abre o coração, revelando segredos, dores e experiências traumáticas à medida que o enredo avança.

Temas urgentes e a conexão com o público

O que torna “As Vantagens de Ser Invisível” um drama comovente é a sua capacidade de dialogar com gerações diferentes, convidando o público a refletir sobre tópicos muitas vezes considerados tabus. A narrativa não se esquiva de abordar a violência doméstica, o abuso sexual, o bullying, a sexualidade e o suicídio. É uma obra necessária que utiliza a ficção para expor as fragilidades da juventude contemporânea.

A transição para o horror folk e o medo da finitude

Enquanto Charlie luta contra seus demônios internos, o cenário muda drasticamente em “Mother of Flies”, uma produção da Shudder que mergulha no horror corporal “cronenbergiano” misturado ao terror folk. A premissa toca em um medo universal: o enfrentamento de um diagnóstico terminal. Diante da morte iminente, muitas pessoas aceitam o destino, enquanto outras buscam medicinas alternativas. Contudo, o filme alerta para o perigo de cruzar certas linhas, como procurar uma bruxa sombria na floresta para reverter uma sentença de morte. Como dita a regra clássica do gênero, toda magia cobra seu preço.

Uma produção em família com resultados perturbadores

Curiosamente, este filme é fruto do trabalho da “Adams Family” — não a famosa família da TV, mas um clã real de cineastas independentes composto por John Adams, Zelda Adams, Toby Poser e Lulu Adams. Eles roteirizam, dirigem e atuam em suas próprias produções, criando histórias de terror artesanais e impactantes. Na trama, Zelda Adams vive Mickey, uma jovem que não está pronta para morrer. Acompanhada pelo pai (John Adams), ela adentra a floresta em busca de Solveig (Toby Poser), uma reclusa misteriosa com raízes profundas na terra e uma relação íntima com a morte.

Durante três dias, Mickey se submete aos rituais extremos de magia mortuária de Solveig. O trailer sugere uma atmosfera deliciosamente perturbadora, onde segredos enterrados começam a vir à tona. À medida que o véu entre os vivos e os mortos se desfaz, a protagonista se vê diante de verdades sombrias que apenas aqueles que estão morrendo conseguem compreender. Se “As Vantagens de Ser Invisível” nos ensina sobre a dor de viver, “Mother of Flies” parece pronto para nos mostrar o custo aterrorizante de tentar enganar a morte.